sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Metallica - LOAD (1996)


O heavy metal não é apenas um gênero musical, mas sim um modo de vida. E, aparentemente, quanto mais extremo for a música, mais extremo é o fã. Mesmo que o thrash metal, no final dos anos '80, tenha sido, dentro desse contexto, ultrapassado pelo death metal, por exemplo, o gênero popularizado por quatro grupos de americanos raivosos e barulhentos era mais popular. Claro, com MTV rodando uma música de nome One exaustivamente, não tinha outra. Enfim, esses caras dessa música, ai, tinham explodido uma bomba com seus trabalhos, e revelados o gênero que prometia acabar com o glam metal que reinava nas paradas... Mas eles chegaram perto demais do sol. Subiram mais um pouco e, enquanto pareciam sentir muito calor, se mantinham com louvor ali. Decidiram ir além.

Se liga na cara do Lars, a direita
O METALLICA, meus caros, com certeza se tornou a maior banda do heavy metal no mundo em 1991, quando, na segunda segunda-feira de agosto, chegou ao público o álbum de "capa preta, logotipo preta e que se foda!" (frase de seu grande vocalista). Seu nome oficial era Metallica, mas ficou conhecido como Black Album (por questões óbvias). Pérolas como Enter Sandman, Nothing Else Mattes e The Unforgiven estavam contidas lá. Mas... Espere, o que aconteceu com o som? Aquela porra toda de Kill 'Em All, Ride The Lightings, Master Of Puppets e ... And Justice For All? Oh, esqueça, ouça Sad But True e... Amaciou, mas ainda são fodas. Nem todo mundo pensou assim. A mudança de som (de um thrash metal sendo evoluído a níveis incríveis de composição a típico heavy metal) não afetou tanto os fãs, que, na verdade, aumentaram mais do que diminuíram. Valeu, MTV?

Enfim, lá estava os caras, em 96, quinze anos atrás, lançando o disco com esperma e sangue na capa, que era bem mais leve que o anterior, com influências de Lynyrd Skynyrd e divulgação fotos do batera Lars Ulrich e do guitarrista solo metido a "homem-improviso" Kirk Hammett com tendências homossexuais. Tinha o vocal e guitarrista base, James Hetfield, e o grande baixista Jason Newsted, mas eles ficaram de fora dessa viadagem (no sentido literal da palavra), mas... Lá estavam eles, todos arrumadinhos, de cabelos penteados e curtos.

Foto do single "Hero of the Day"
É desse disco que venho vós falar. Aquele que dizimou fãs extremistas do Metallica e alegrou os do Megadeth (que na minha opinião consegue ser a rixa mais cretinas do rock que conseguiu sobreviver até hoje). Vamos falar desse tema mais clichêzinho antes da conclusão, leia se quiser.

Load não é o melhor disco dos caras, e pra mim, pelo menos, pouca coisa seria melhor que Ride the Lightning, mas ... And Justice For All me deixa em dúvida... Além, claro, dos manjadíssimo Master of Puppets e o debut Kill 'em All, que são duas peças importantíssimas para o thrash metal, junto com Rust in Peace, do Megadeth, Reign In Blood, do Slayer, e outros discos (que não são o foco dessa porra de artigo). Mas, enfim, é um bom disco. Um grande disco.

As guitarras de Kirk e James estão voltadas a algo mais blues (e isso é bem perceptível nos solos). A bateria do Lars, habilidosamente rápida e veloz (mesmo que existam argumentos que provem que ele não saiba tocar nada), se encontra bem mais simples no disco todo. Idem para Jason, com linhas mais simples.

Uma coisa que me agrada no Metallica são suas letras, de todas as fases; porém, partir no Black Album, James começou a se inspirar em monstros sagrados (ô loco, meu) como Bob Dylan, John Lennon e Bob Marley para escrever. Deu no que deu: são incríveis letras, por si só - e não exatamente por estarem com o "riff mais foda de todos". Porra, bicho.


Enfim, vamos falar do disco:

AIN'T MY BITCH é uma grande abertura. Riffs do caralho, letra ousada, solo bem hard-blues. Segunda preferida, depois do encerramento. 2 X 4 segue o mesmo estilo, com ótimos riffs e um solo mais desenvolvido. Tem uns backing vocals lentos bem legais.

THE HOUSE JACK BUILT já é diferente. James começa bem mais líricos numa levada mais lenta, e a música ganha corpo depois da primeira estrofe, mas não é rápida como as outras - e nem tão boa - e mostra o rítmo que o disco vai ter. Nunca foi tocada ao vivo, mas ao menos uma vez ela merecia, só pelo solo com talkbox.

UNTIL IT SLEEPS foi o primeiro (e único) som dos caras que atingiu o Top 10 (na décima posição, mesmo) na Billboard Hot 100. A letra fala sobre o mãe de James, que morreu após uma batalha contra o câncer (o tema da morte dela foi retratada em outras músicas, como The God That Failed, do Disco Negro). Uma bela canção, sem dúvidas. Prova do grande potencial de James como letrista. A banda a acha parecida com Fell On Black Days, (a melhor) música do Soundgarden. Tanto que a primeira demo da canção foi "F.O.B.D.".

KING NOTHING... A introdução começa com algum barulho que não sei explicar ao certo o que é. Ele vai e volta por um tempo, se distanciando. Newsted entra e pronto. É outro sucesso dos caras. É mais uma daquelas que o Metallica cospe na cara do perdedor que ele é realmente um perdedor.

HERO OF THE DAY é uma balada (em algumas partes, pelo menos). Vejo influencias do southern rock. Sucesso, mas não é muito o meu tipo.

BLEEDING ME é uma grande canção, uma das melhores. James fala sobre tentar parar de beber. "Na época do Load, eu senti que eu queria parar de beber. Talvez eu esteja perdendo alguma coisa. Todo mundo parece tão feliz o tempo todo. Eu quero ficar feliz [...]. Eu perdi muitos dias da minha vida indo para a terapia por um ano. Eu aprendi muito sobre mim mesmo [...] Bleeding Me é sobre isso: eu estava tentando sangrar todo ruim, tirar o mal[...]", disse, em entrevista a Playboy.

CURE nuca foi tocada ao vivo. Mas é basicona. POOR TWISTED ME tem uma puta introdução, mas a música é normalzinha, também.

WASTING MY HATE me anima, outra grande música. Empolgante como as duas primeiras.

MAMA SAID... Eu tive aquela época de "apedrejamento ao Load", mesmo eu nunca tendo ouvido o disco inteiro, só por Mama Said. Hoje? Hoje eu acho ela linda. É aqui que fica claro: O Metallica, nos anos 90, procurou uma bela mudança, e teve um bom resultado. Fala da mãe super-protetora de James. Repito, linda, daquelas pra cantar o refrão junto.

THORN WITHIN e RONNIE fecham o quarteto das nunca tocadas ao vivo (e essas eu não entendo direito o motivo). Na primeira, James assume-se "culpado", numa grande canção. A segunda tem uma intro diferentona assim como Poor Twisted Me e, puta que pariu, lembra ZZ Top. São grandes canções pra entrar no final... THE OUTLAW TORN. Sim, a mais longa do disco. Incrível. Como começa, a levada, os versos sem guitarra, o refrão potente, os interlúdios e aquele solo, como não achar foda? Encerra um grande disco de muitos altos (bem altos) e baixos (mais pra "nulos", pelo fato de certas músicas ficarem apagadas).

James e Kirk, lá em oitenta e pouco
Como o James disso certa vez, "Muitos dos fãs se desligaram um pouco de nós pela música, mas a maioria, eu acho, pela imagem". A verdade é que o Metallica, por mais que digam o contrário, foi considerado o judas do thrash (não comparando ao judas do folk) muito mais pela imagem do que pelo som. O Megadeth fez exatamente a MESMA coisa (dizer que não, por favor), e o pior, seguindo o Metallica. Mas eles não cortaram o cabelo, preferiram não tirar os pés do heavy metal/hard rock e continuaram mandando todo mundo tomar no cú (e isso é legal). O Metallica experimento gêneros mais acessíveis e de críticas sociais e caos emocional beirando a loucura, eles decidiram pisar no freio pra serem mais brandos, acompanhando o ritmo da bateria. Mas eles foram perder o pé lá com o ReLoad (que foi o que sobrou desse disco discutido) e com o St. Anger (que, segundo eu tenha lido - preciso ouvir e conferir - foi o Risk do Megadeth), que é de verdade algo ruim. Mas a verdade é que enquanto o Metallica alcançava o sucesso, indo justamente atrás de novos - e maiores - públicos, o Megadeth procurava de outra forma, que parece que agradou mais. Se compararmos Load a seu respectivo representante do Megadeth, o Youthanasia, ambos são grandes discos (que eu mesmo gosto igualmente) com canções ofuscando as outras.

Comecei ouvindo Metallica a partir do Black e do Garage Inc., onde eles não eram mais os reis do thrash (não no som, pelo menos), então vocês podem até duvidar de mim. Mas a verdade é que, querendo grana, se fodendo pros fãs, buscando novos caminhos artisticamente falando, o Metallica boteu pra foder. Mais devagar, mais leve, mas botou.

JAMES HETFIELD
guitarra rítmica / solo ("Thorn Within" e "The Outlaw Torn"), vocais principais
KIRK HAMMET
guitarra solo / rítmica
JASON NEWSTED
contrabaixo, vocais de apoio.
LARS ULRICH
Bateria, percussão.
Produção: Hetfield, Ulrich, Bob Rock.

Escrito por Beto Cardoso